quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

AIDS E INQUIETAÇÕES JUVENIS

Em mais de trinta anos da sua descoberta, a Aids ainda é novidade pra muita gente. Além do HIV continuar fazendo milhares vítimas no Brasil e no mundo, ele ainda é “desconhecido” ou velado em diversos lugares. A grande questão, é que a epidemia vem crescendo cada vez mais entre os(as) adolescentes e jovens, se tornando uma vivência compartilhada entre seus/suas familiares e amigos(as).

Num país onde a saúde pública é um dos principais problemas e as políticas de juventude ainda são utopias, que de forma arrastada tentam sair do papel, não é de estranhar esse “vale a pena ver de novo” no aumento de infectados(as) nesta faixa etária pelo HIV. Pode ser até “comum” esta incidência, mas não deve ser naturalizada ou tratada como algo banal.

São milhões destinados a compra de insumos de prevenção e medicamentos, em campanhas publicitárias e materiais gráficos para divulgação, em pesquisas e pagamento de recursos humanos para atuar nas unidades de testagem e tratamento... Muito dinheiro e ainda temos uma epidemia lotando os leitos de hospitais, colocando o norte e nordeste em estado (e em Estados) de alerta. O que está faltando?

Pesquisadores(as) provocados(as) por esta situação, contando depois com a adesão do Movimento Nacional de Luta Contra a Aids externaram sua insônia através do manifesto: “Aids no Brasil hoje: o que nos tira o sono?” Os gritos silenciados, mas evidentes, foram chegando em diversos lugares do país, somando a muitas vozes que já denunciavam o retrocesso da política de Aids nos Estados e municípios, que agora era uníssono também na esfera federal. Jovens até se perguntavam: o SPE está passando por onde? E o Plano de enfrentamento à juvenização, deixará de ser lenda?

Gera mais inquietação, quando a realidade é confirmada através do trecho da música: “o jovem no Brasil não é levado a sério”. Estamos falando de uma população de grandes potencialidades que historicamente é taxada mais como problema, que solução. Como “ninguém” quer problema perto de si, é melhor afastar ou por fim. Será isto então que motiva o genocídio à juventude negra e a redução da maioridade penal?

O que é mesmo protagonismo juvenil? Será um paneiro de conceitos e poucas ações? Um alguidá de ideias, cercado de tutelas e preconceitos? Substantivo ou adjetivo? O fato é que quando não acreditamos na autonomia destes(as) jovens, não valerá a pena a promoção da saúde na perspectiva da educação entre pares. Assim como não terá tanta eficácia, uma ação “para” a juventude, mas “com” a juventude, adotando a disciplina da escuta como exercício para a descoberta do novo.

As três décadas de combate a Aids, não podem retroceder através de discursos tendenciosos e oportunistas. Assim como o incentivo político-financeiro, não deve ser tratado como exclusividade, mas como prioridade. A juventude não deve ser tratada como mera coadjuvante, tampouco com tutela ou desprezo, mas sendo levando em aliando a construção da sua identidade e de sua autonomia a capacidade mobilizadora de transformar. Afinal, este é um trabalho que não nasce do nada para lugar nenhum, mas também tem como ponto de partida a vida dos(as) adolescentes e jovens.

Neste sentido, vale ressaltar que o “ativismo virtual” deve ser consequência do trabalho de base, a sociedade civil organizada estabelecendo o diálogo constante com os governos sem que perca sua identidade e as estratégias de prevenção pautadas nas novas tecnologias construídas mutuamente. A metodologia de educação entre pares e a educomunicação protagonizadas pelos(as) jovens, podem até não resolver todos os desafios atuais, mas poderá amenizar o sono de quem tira e/ou de quem está vivendo esta insônia “induzida”.

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